Sunday, February 13, 2005

vinte minutos

dentro do ônibus, as imagens seguem rápidas, tão rápidas quanto perdem sua forma para borrões de cores que se diluem e se misturam com as outras coisas ao redor... a janela embaçada deixa passar pouco da luz, embora o sol ainda se faça presente, envolta pelo cobertor de calor, abafado, dificultando ainda mais a respiração... piloto automático, não mais penso, não quero fazê-lo, evito parar e ver a situação como ela se apresenta... mesmo sem ter consciência do que acontece minhas pernas me erguem, o braço levanta a mão que segura os dedos, adormecidos ao toque indo em direção ao cordão, pronto...eles o puxaram...

os degraus parecem demasiados altos, despenhadeiros que se apresentam enfileirados na minha frente... meus pés tocam a rua, os olhos observam a coloração, de verde, para amarelo, finalmente vermelho... sigo olhando as pessoas que passam por mim, todas alheias, algumas apressadas com passos largos, outras sorridentes com as mãos tomadas por crianças saltitantes, elas se vão... eu também, independente de mim sou levada pra onde preciso ir... encaro o edifício, seus tijolos sobrepostos, o cimento frio a envolver a construção, os seus corredores, o cheiro característico do lugar onde se ganham esperanças ou espera-se que elas desapareçam por fim... observo aquele gigante sem alma, com o silêncio que te desperta a vontade de gritar, de reagir, de qualquer coisa que não seja apenas olhar e aceitar...

num segundo os pés que caminhavam param, atordoados com as lembranças... as palavras voam velozes, desenhando na mente a figura grotesca que aguardava lá dentro solitária... a ironia e a incongruência do que era antes com o que deve ser torna intragável apenas a idéia de tal situação... os pés, antes tão certos, agora recuam, as imagens vão ficando mais claras e fortes na minha mente... o que antes era convicção se transforma em revolta, e então em medo... vinte minutos... o tempo passou como se fosse gotas escorrendo por uma fina vidraça, onde vê-se seu movimento mas elas não conseguem te atingir... permaneci assim, impassível, durante vinte minutos, tentando me convencer, dobrar o que me segurava ali, na calçada...

derrota, segui pelas ruas da cidade, mais uma vez levada... os pensamentos sendo substituídos rápidos um pelo outro... ao que restaram somente um sentimento de impotência e covardia... a impossibilidade de consertar as coisas, de fazer com que saiam da maneira que queria, depois disso a incapacidade de aceitar, encarar o que quer que seja e enfrentar suas consequências... tudo isso por causa de um segundo que foi mais forte do vários de seus iguais somados, o davi do tempo que derrotou mais vinte minutos...

2 comments:

  1. Anonymous10:10 PM

    Tudo na vida tem seu momento. Não seja dura demais consigo mesma. Mas não deixe com que esse momento passe, pois as vezes os momentos se repetem. Outras vezes, não.

    Beijos, ninfa...

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  2. E ai minha cara felina, o que anda acontecendo (ou sou eu que ando meio "fora de órbita")? Se quiser compartilhar, eu estou sempre a ouvidos :-)

    Adianto que "...As nuvens não vão estar lá pra sempre, mas o céu sim..."(Uma grande amiga minha me falou isso).

    Beijo minha cara Felina...

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