"eles chegavam, vindos de diversos pontos da europa, os poloneses com seu gosto particular por sangue, os italianos com suas músicas, os alemães com suas mulheres lascivas... desembarcavam junto ao cais, vindo de navios fétidos, tão mal cuidados que nenhuma ciência podia explicar como ainda flutuavam sobre as águas pardas do guaíba... assim foi quando primeiro o vi...
a massa que emergia do imenso casco de madeira exibia foligem e olheiras nos seus semblantes cansados da longa jornada, seus trapos imundos e amarrotados não permitiam mais que se indentificasse a cor original dos tecidos, a expressão perdida de quem se pergunta por onde vai começar uma nova etapa que lhe foi quase imposto...
ele não... ele caminhava com um olhar altivo, portava cartola, e sua sobrecasaca estava impecável, bem como o bigode e o cavanhaque cuidadosamente aparados de forma a parecerem ter sido esculpidos assim, sem risco de destoar da figura um momento sequer... os sapatos lustrosos seguiam com passadas firmes ritmadas pelo galgar da bengala, um adorno que conferia a ele um ar ainda mais nobre e imponente...
não havia sol para iluminar as faces naquela noite de inverno gaudério, porém o sorriso dele resplandecia, se destacava mais que qualquer outro traço na multidão ou mesmo na sua figura... um sorriso afiado, um traço bem colocado no seu rosto que ao ser assimilado despertava sensações diversas, conflitantes... a mim restou o encantamento, por mais que tivesse algo de aterrorizante nele não pude evitar a fascinação... mais do que o medo que gelava o corpo aliado ao minuano, ele exercia um forte magnetismo sobre minha pessoa...
e assim foi o começo de tudo..."
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