Tuesday, May 31, 2005

neverland

véspera de aniversário, e o que importa? uma data, como tantas outras que eu ignorava e repudiava na escola por não terem sentido de serem lembradas... a data por si tira o valor de tudo que se passou, como se todo o processo de sofrimento dos negros, sua luta pela alforria, as diversas leis e tratados para libertação e melhores condições de vida perdessem o significado em vista da Lei Áurea que celebra a abolição da escravatura... e o que isso quer dizer? uma data, não se iguala nem num ínfimo à toda história vivida... deixa eu voltar ao início do post... um aniversário... com certeza não marca a evolução da minha idade biológica em termos científicos, já que a maneira como vivo tem um peso bem maior nesse ponto do que um mero registro... nem tão pouco demonstra a minha evolução mental, psicológica ou social, como se de uma hora pra outra vc fosse viver um ano no virar de uma noite e pensar: cresci...

nos últimos anos tenho tido vários aniversários, não os convencionais, mas os verdadeiros... aqueles momentos, ou situações pelas quais vc passa e percebe q aprendeu algo, que mudou, morreu um pouco e descobriu um novo lado... quando se vê que amadureceu um tanto e passou a dar mais valor aos momentos em que não se precisa adotar esse comportamento, quando a gente nota a vastidão de escolhas à nossa frente, e sabe que não precisa ser tão sério ou carrancudo, que por mais se tenha responsabilidades ainda dá tempo de viver e aproveitar sem ficar carregando todo aquele peso nos ombros...

fato, assumi muitas responsabilidades e tive que aprender a lidar com elas, mas acima de tudo vi o que não quero me tornar... não preciso ficar exibindo tormentas como se fossem cicatrizes de batalha pra me mostrar mais sério ou responsável ou confiável que os outros, não tenho que andar correndo de cara amarrada pra ganhar respeito por causa da posição... muito menos deixar de aaproveitar circunstâncias ou descontar em pessoas de quem gosto as coisas que saem erradas discutindo por elas reagirem de forma diferente ou resolverem seus problemas de outra maneira, esquecer que ainda que tenha coisas a resolver é possível relaxar um pouco e rir do problema enquanto se pensa numa solução(tenho plena ciência de que isso é o que eu NÃO quero na minha vida)...

e chega o aniversário... uma data apenas vai dizer tudo isso? nem de perto... mas é uma boa desculpa... não para ganhar presentes(que eu geralmente ignoro quando posso ver um amigo na minha frente), mas pra ter a oportunidade de ver pessoas que vc ama, receber telefonemas delas, que você esperava pudessem acontecer todos os outros dias do ano... sim, datas servem pra isso, apenas e somente como desculpa... desculpa pra pessoas que cresceram demais e não podem se dar ao luxo de abraçar um amigo num dia qualquer e dizer o quanto se importam, que precisam de um motivo pra comprar algo que provavelmente vai ser superficial e planejado(ao invés de fazê-lo quando passam por uma loja e vêem aquele quadrinho que faltava pra coleção do amigo, ou um postal com a figura do alterego do seu amigo depois q bebe *rs...) que venham então as datas, para que possam lembrar de ser pessoas, que se importam com os outros e que na vida existem mais do que problemas e obrigações...

Wednesday, May 25, 2005

muralhas

"it's a truth universally acknowledged that" a single love can be as destructive as a nuclear weapon...
não adianta quantas pessoas falem que o amor é um sentimento nobre, que não há felicidade sem amor... basta uma ferida mal cicatrizada, uma passagem entreaberta dando espaço para um sentimento crescente e toda a idéia sublime se esvai... quantas vezes não se sofre, se machuca, e assim dilacerado, a primeira coisa q vem à mente é a tão temida caverna... o muro de sentimentos circundando a gente, a proteger-nos do mundo e ao mesmo tempo afastar-nos dele... a vontade de construir uma armadura que suporte os mínimos arranhões e as mais violentas tempestades... alguns investem bastante tempo e empenho em tal empreendimento, sem sequer perceber o alcance de tal atitude.. como um apoio para uma perna quebrada, essa proteção funciona bem ao cicatrizar feridas, mas depois de um tempo é necessário abrir mão de tal artefato e reaprender a caminhar sem apoio... depois de um tempo demasiado longo, ao invés de dar maior segurança, o recurso passa a impossibilitar um caminhar autônomo fazendo com que um trabalho maior seja desenvolvido... não se pode carregar algo tão pesado por toda jornada, muito menos se tornar dependente de uma invenção utópica para satisfazer a necessidade de se sentir inatingível, à prova de qualquer ferimento... ainda assim, corre-se o risco de descobrir que havia uma falha no projeto, q não se torna visível até q ele comece a ruir... então sem saber como ou porquê, a pessoa se descobre mais vulnerável do que nunca, a deriva num mar de emoções e sensações há tempos ignoradas por ela, sem saber como lidar com isso...
figura de linguagem pobre e texto confuso, o sono opera mais forte q a razão... o que me cabia dizer é que no final das contas é inútil, sempre terá alguém q qd vc menos espera, no momento que parece mais impróprio, sem o mínimo esforço, da forma mais suave que existe, irá despir a armadura e moldar seus sentimentos suave e irreversivelmente, e então nada mais restará a ser feito... deixo com cummings que fala em poucas linhas mais do que eu poderia dizer numa noite inteira...

.:para o meu gatinho ferido, a doce chuva de primavera que derrubou algumas tantas muralhas:.


somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully, mysteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the colour of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even rain, has such small hands

Sunday, May 22, 2005

gastronomia

prato do dia: confundir, complicar, uma sopa de caracteres japoneses a flambé... vem, puxa uma idéia... pode sentar, o chão está à disposição, cortesia da casa... pise de leve ao chegar pra não espantar as idéias... favor depositar todo peso dessnecessário na recepção... sinta-se a vontade, apenas tenha certeza de que o paladar não extrapola seus limites, talvez ácido demais ou apimentado... querendo deixe cozinhar por mais um tempo, a carne já foi amaciada... a degustação sugerida é lenta e minunciosa... caso haja algum desentendimento quanto ao acompanhamento favor dirigir sua palavra ao responsável pelo estabelecimento... não podemos garantir satisfação plena, porém zelo absoluto com o seu bem estar... cuidado ao sair, não esqueça seu controle! ah, sim... antes que me fuja da mente, não penses haver uma especialidade do chef, o cardápio é vasto e renovável... bem como as escolhas de tão exigente paladar...