Monday, October 19, 2015

.:back to the begining:.

Esse poema ficava no meu quadro de cortiça desde que eu tinha onze anos. Um dos primeiros a me dizer algo,  talvez pelo meu nome, talvez pelo signo, ou ainda pela incapacidade de permanecer demasiadamente no mesmo lugar.
Fato é que ele torna,  falando de almas e borboletas, e eu dôo, anseio pelas migalhas de vida quotidiana que alimentam a alma. sinto o vazio deixado pelos quadros do palácio, o som das ondas na pedra, as cores do colibri e o canto do bem - te - vi,  o eco dos passos caminhando verso a plenitude.
E quando não se pode alimentar a alma, não seria mais justo que ela pudesse ser livre?


Há certas almas
como as borboletas,
cuja fragilidade de asas
não resiste ao mais leve contato,
que deixam ficar pedaços
pelos dedos que as tocam.
Em seu vôo de ideal,
deslumbram olhos,
atraem as vistas:
perseguem-nas,
alcançam-nas,
detem-nas,
mas, quase sempre,
por saciedade
ou piedade,
libertam-nas outra vez.
Elas, porém, não voam como dantes,
ficam vazias de si mesmas,
cheias de desalento...
Almas e borboletas,
não fosse a tentação das cousas rasas;
- o amor de néctar,
- o néctar do amor,
e pairaríamos nos cimos
seduzindo do alto,
admirando de longe!...

Gilka Machado