Tuesday, September 01, 2015

.:sobre educaçao e genero:.

Daqui a duas semanas iniciam as aulas do ano letivo de 2015/2016 por aqui, e uma lei que implementa a ideologia gender nas escolas esta causando um grande rebuliço entre os pais provincianos da regiao. O motivo? Talvez falta de informaçao, talvez preconceito e xenofobia, talvez so medo de questionar a propria formaçao e aceitar um mundo em transformaçao.

A tal lei se baseia na convençao de istanbul (sintam-se livres de ler a mesma na integra na lingua que preferir) que tutela vitimas de violencia por discriminaçao de genero, e preve quando necessario medidas de conscientizaçao dos cidadaos durante a formaçao escolar, incluindo jardim de infancia. A lei moveu duas facçoes contrarias e por motivos diversos, porem similares, ambos baseados em falta de informaçao. Eis parte do artigo que esta gerando tanta polemica:

"Artigo 14o – Educação
1 As Partes desenvolverão, se for caso disso, as acções necessárias para incluir nos currículos escolares oficiais, a todos os níveis de ensino, material de ensino sobre tópicos tais como a igualdade entre as mulheres e os homens, os papéis não estereotipados dos géneros, o respeito mútuo, a resolução não violenta dos conflitos nas relações interpessoais, a violência contra as mulheres baseada no género e o direito à integridade pessoal, adaptado à fase de desenvolvimento dos alunos."

O que esta causando grande debate aqui entre as pessoas menos informadas (vamos nos referir às mesmas como portas, ok?) é a interpretaçao errada de que querem inserir educaçao sexual nas escolas a partir do primeiro ano de jardim de infancia; e fazer o mesmo encorajando a descoberta e estimulaçao do proprio corpo incluindo hipoteticas aulas de masturbaçao e praticas sexuais diversas. Pois é, viagem, falta de informaçao e afins. Tal visao gerou varias manifestaçoes, discursos de odio, distribuiçao de panfletos que me deixavam em cima do muro sem saber se rir do absurdo ou chorar com a ignorancia que circundava minha filha.

Ignorando a manisfestaçao das portas vamos seguir para o outro grupo contrario a implementaçao da ideologia gender. Esse segundo grupo cre que tal abordagem visa eliminar toda e qualquer diferença entre os generos e incentivar as crianças a tornarem-se homosexuais ao serem expostas à ideia de  "papeis nao estereotipados de genero". Esse é um ponto que mesmo as mentes mais esclarecidas por aqui tem dificuldade de aceitar e gestir, e algo que durante a implementaçao nas escolas pode causar danos dependendo dos responsaveis pela mesma e de como eles veem a questao de generos, direitos e papel social. Alguem que é fortemente contrario à ideia de igualdade de generos pode reforçar tal diferença ao inves de encorajar uma visao menos influenciada por heranças socio- culturais que se tornam cada vez mais obsoletas.

Cada uma dessas visoes mereceria um post individual para detalhar todos os pormenores da influencia desses aspectos na educaçao de uma criança e o panico crescente de nao conseguir sobrepor as ideias geradas pela comunidade circunstante. Porem, nao acho que nada disso va afetar em modo real a dinamica da escola onde minha filha esta inserida, ja que vejo tal lei como uma forma de reaçao ao grande fluxo migratorio que temos aqui.

*a partir daqui é a minha opiniao pessoal. meu blog, me reservo o direito de falar como eu penso, lamento se nao é como voce pensa, mas hei, viva às diferenças!*

Na cidade onde eu vivo, e assim como em boa parte das cidades italianas, a maior parte dos imigrantes que se instalaram sao muçulmanos. Eles sairam do proprio pais (boa parte aqui veio do marrocos) por diversos motivos, grande parte por necessidade mais do que por vontade. Abriram mao da casa deles, mas nao da cultura. Nao ofendem as tradiçoes alheias, mas mantem as suas crenças e praticas religiosas. As mulheres usam o veu, e se orgulham disso. A populaçao daqui nao aceita/entende os motivos delas, e nem precisam. A maior parte se revolta com as vestimentas de escolha das mulheres muçulmanas; as tomam por tentativa de dominaçao masculina, como desvalorizaçao da mulher. Eu seria de acordo se fosse uma coisa imposta, mas as mulheres com quem conversei aqui utilizam os trajes como escolha propria. Elas demonstram respeito pelas suas tradiçoes atraves do modo delas de vestir, mesmo estando em um pais cuja religiao oficial nao exige tal decoro quanto a ornamentos.

E so para lembrar, a Italia é um pais predominantemente catolico. A religiao esta tao intrinseca na educaçao que a maior parte das Escolas ou sao gestidas pela paroquia do bairro, ou funcionam em locais cedidos pela Igreja, devendo seguir regras, calendarios e curriculos especificados pela mesma. Um exemplo disso: no ano do inserimento (crianças de 2 anos) o curriculo incluìa aprender sobre a criaçao do mundo. A rotina englobava prece para brincar, prece para comer (tres refeiçoes na escola) e prece para dormir. Voce diria, "ok, educaçao crista. se voce nao concorda, matricule o filho em outra instituiçao." Mas esse é o ensino publico do pais. Em localidades mais ao norte, sao o unico tipo de educaçao oferecido. entao a escolha se resumiria em matricular o filho nesse ambiente escolar ou retirar a criança do convivio social e lidar com a educaçao e formaçao dele em casa.

Do modo que eu vejo, a convençao visa aplainar o terreno, suprimindo diferenças culturais baseadas em genero mesmo quando tais diferenças sao uma opçao. A ideia louvavel de tutelar as mulheres de discriminaçao devido ao genero e papel social estereotipado me parece uma excelente cobertura para eliminar as tradicoes culturais dos imigrados, fazendo sim, com que eles se adequem à Uniao europeia ou deixem o territorio da mesma. Mas, como disse antes, assim é como eu vejo, e essa vertente nao foi nem minimamente discutida quando se falou da tal "ideologia gender". Talvez eu que veja coisas onde nada existe, uma bela mascara para encobrir a triste realidade de que as pessoas sao diferentes, o mundo como voce ve nao é o mesmo que o do teu vizinho, e aceitar isso é essencial. De repente, igualdade de genero das escolas é so uma forma de dizer que voce pode discriminar as mulheres, mas do jeito europeu.

de qualquer forma, nao acho que tal discurso va afetar a educaçao das crianças em modo drastico (se afetar em algum modo), tanto menos corromper as mentes jovens criando uma cultura de sexualizaçao precoce como tantos pais temem. por enquanto eu aguardo a reuniao de inicio do ano, e finjo que nenhum desses pontos me afeta, porque dar peso demais à compreensao alheia nao vai fazer nada alem de me afundar na areia. Entao, nao vou me preocupar com uma lei que nao vai mudar a vida da minha filha, vou esperar ansiosamente o inicio do ano letivo com todas as descobertas e momentos que ele vai trazer para ela; e vou continuar a educar minha filha, do meu modo, com a mente dela.

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